Preocupados com a onda de ataques à Amazônia neste final de ano, as Comissões para a Ecologia Integral e para a Amazônia da CNBB, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) chamam atenção sobre as ameaças organizadas contra o bioma.
Há em curso um ataque frontal e articulado aos povos indígenas, às comunidades tradicionais da Amazônia, à integridade da floresta amazônica, à segurança hídrica de todos os brasileiros e à estabilidade do sistema climático planetário, dos quais dependemos todos existencialmente como sociedade e como espécie. Nos dois últimos anos, a floresta amazônica foi entregue pelo governo federal aos desmatadores, incendiários e garimpeiros. O efeito primeiro desse incentivo ao crime é claro: um salto de 7.536 km2 em 2018 do desmatamento por corte raso para 13.235 km2 entre Agosto de 2020 e Julho de 2021 (a média histórica dos últimos dez anos é de 6.493,8 km2). Os incêndios criminosos se propagam como nunca e até 30 de Novembro de 2021 o bioma amazônico acumulava 73.494 focos de calor.[1] Estima-se que esses incêndios tenham atingido, apenas no século XXI, cerca de 95% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidos na Amazônia, bioma que ostenta cerca de 10% da biodiversidade do planeta, e já afetaram o habitat de 85% das espécies de plantas e vertebrados ameaçados de extinção na região.[2]
Papa Francisco nos recorda, na exortação depois do Sínodo da Amazônia, que a Amazônia não é “um enorme vazio que deve ser preenchido”, ou “uma vastidão selvagem que precisa ser domada” (QA 12).
Mas os ataques à Amazônia, em vez de diminuir, vêm se intensificando! Outra frente desta guerra relâmpago é o garimpo ilegal, atividade que ocupa um dos centros da agenda governamental. Mancomunados com o narcotráfico e financiados por grupos não identificados, os garimpeiros invadem comunidades, matam e aterrorizam as populações indígenas, destroem florestas, poluem os rios e intoxicam gravemente com mercúrio os organismos. Os direitos humanos e as salvaguardas socioambientais, conquistas democráticas dos brasileiros, foram mais uma vez gravemente ameaçados pelo assentimento prévio outorgado a sete projetos de garimpo pelo general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e secretário-executivo do Conselho de Defesa Nacional da Presidência da República, onde têm assento Ministros de Estado e os três comandantes das Forças Armadas.
[3] Essas autorizações atendem, frequentemente, a pedidos de políticos e de donos de garimpos que destroem a vida e poluem as águas de diversos rios da Amazônia, inclusive recentemente as do rio Madeira, com dragas de sucção. As áreas agora ameaçadas estendem-se por 12,7 mil hectares e ao menos duas delas são Territórios Indígenas. Todas se encontram em São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste do estado do Amazonas, uma das regiões mais preservadas da Amazônia, abrigando 23 etnias indígenas, entre as quais os Baniwa, os Wanano, os Tukano e os Yanomâmi. Trata-se de um ataque frontal aos direitos dos indígenas, consagrados na Constituição de 1988, e até mesmo de um ataque simbólico, pois São Gabriel da Cachoeira é o município com maior densidade populacional de indígenas no Brasil.